Quando o carro era satisfatório, a distância que ele estava não era. Meu marido achou por bem me dizer que nossa cidade ainda não está entre as mais bem servidas deste tipo de serviço. Eu já tinha conhecimento disso e devo ter respondido com um desses sons que não chegam a ser uma palavra. Da saída do avião até a saída do aeroporto há um percurso de cerca de quinze minutos. Durante os primeiros cinco minutos meu marido foi mexendo no seu aparelho e andando numa velocidade que me obrigou a ir bem mais depressa que meu corpo cansado estava querendo. A busca dele seguiu incessante. Ele passou a me mostrar quanto cada um cobrava. Meu marido estava com a faca e o queijo nas mãos para apertar um botão ou dar um comando e ganhar o tal jogo. Eu sabia que não era conveniente interrompê-lo e assim, após uns poucos minutos ele me anunciou triunfante que o nosso carro seria um HB, branco, com os números finais da placa, não tenho certeza, 73 e até disse o nome do motorista, que pode ter sido Rodrigo, ou outro qualquer. Como jogadores na última fase do jogo, passamos pelos portões do aeroporto em direção à área de desembarque. Agora só precisávamos achar o carro. Meu marido é mais alto que eu e com seu olhar consegue sempre varrer um campo bem grande. Andamos bastante de um lado para o outro. Fique perto de mim, ele me disse com uma voz firme, enquanto corria e buscava achar o carro que para nosso desgosto não estava facilmente à vista. No meu iphone diz que o carro está estacionado aqui. Experimentei dizer que o motorista poderia ter dado uma volta. Impossível! O aplicativo mostra que ele está aqui. Depois de um tempo, ousei dizer que não queria mais andar. Queria ir embora. Achei um lugar num banco e me sentei. Empaquei. Meu marido começou a perceber que iria ser desclassificado do jogo. Ficou desacorçoado. Experimentei ajudar: Liga para o motorista. Já liguei! Ele não atende. Vou cancelar e buscar outro... Nesse momento, enxerguei um taxi parado bem na nossa frente. O motorista do taxi saltou. Meu marido leu meus pensamentos e me disse que ele deveria estar aguardando alguém. O senhor está aguardando alguém? Não, estou livre. Quanto custa até o centro? O valor que ele deu era talvez 40% a mais que os carros que usam aplicativos. Rapidamente eu falei que o valor estava bom e que nós iríamos com ele. Meu marido entrou mudo no carro. Entre dentes me fez saber que ainda pagaríamos mais do que foi dito. Eu retruquei dizendo que pagaria quanto fosse. Ele foi eliminado do jogo. Estava amargando sua derrota, quando o motorista experimentou puxar conversa. Mudo ficou e eu troquei algumas falas com o motorista. Na porta de casa, meu marido me questionou se eu tinha dinheiro à mão. Achei minha carteira e tirei as notas para contar o dinheiro. Pronto! Por favor, confira se eu lhe dei o valor correto. O motorista contou e recontou. Não! A senhora me deu a mais. Ele me devolveu vinte e poucos reais. Boa noite e bom descanso! Vocês parecem cansados, mas já estão em casa e vão descansar. O senhor percebeu mesmo nosso cansaço. Boa noite para o senhor também. Meu marido se rendeu e desejou boa noite para o motorista. Game over.

Rosali Michelsohn
(Rosali é psicóloga, escritora e minha amiga há mais de 30 anos.
Blogueira - onde publica seus excelentes textos
http://www.vistadajanela.com.br/blog/jogos-modernos )
Trabalha na empresa Tangram Consultoria Organizacional


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