
Efêmeras são as flores que ganhei na semana passada de
pessoas que passaram pela minha vida de maneira que parecia ser duradoura, mas
não, era efêmera também assim como as flores que me deram. Acho que era de
despedida, e nem disseram... entregaram, viraram de costas e se foram. Sorri e
abanei a mão como a efêmera flor... nem percebi que era adeus.
Andamos pela vida buscando sentido e permanência. Mas tudo o
que encontramos é confusão e impermanência. Coisas e relações começam leve sem
presunção. A relação se fortalece com a convivência e as coincidências da razão.
Mas passa pelo beco da canseira, incompreensão. Morrem ao nascer do sol. Assim
como essas efêmeras belas flores. Enfeitam-nos por um dia. Amanhã outro botão
vai nascer em outro galho qualquer logo ao nascer do sol, neste não.
Sábios nos dizem que precisamos aprender o desapego. Que a
razão do sofrimento está exatamente nisso, em nos apropriarmos de sentimentos e
buscarmos estabilidade. Não, a imponderabilidade é a exata medida. O instante é o
tempo. O sorriso é a profundeza. Quanto menos, mais. Efêmera existência de
tudo. Simples aceitação... estou tentando aprender.
Aprendendo a cada dia não mais me fiar em palavras, compromissos,
propostas, documentos e intenções. A vida transcorre num instante e não dá
tempo nem de pegar a caneta... puff, já mudou da página. Estava ali, no meio da
frase... puff ... outra idéia desvia a atenção... Estava indo colocar o biquíni pra ir na praia...
puff, o tempo mudou, relampejou e já vai chover. Estava me aprontando para um
encontro festivo... puff, a aniversariante não quer mais ver ninguém... ok...obrigado.
Tudo é por demais efêmero. Num dia tão amiga, no outro: nada.
Acho que é a rapidez da tecnologia que transformou a
profundidade de tudo. Por outro lado acho que sempre foi assim. A gente que não
percebia que nada era perene... que tudo é e sempre foi só efêmero. Não sei se são as
coisas do agora que tem se transformado nisso... mas tenho em mim tantas intensidades, raízes
profundas, flores duradouras e perfumadas, pessoas, lugares, casas de pedra
onde ventania nenhuma ameaça e ali estão suavemente sempre a me aguardar com doçura, acolhimento e certeza.
Pensando bem o profundo também é um pouco efêmero, pois voa para fim
da fila de nossa lembrança pra nos pacificar... mas permanece em nós. Acho que o efêmero de hoje é por vezes profundo pois resvala
na nossa alma e cava fundos sulcos de estarrecimento ao fugaz.
Enfrento a realidade devolvendo a superficialidade com a
mesma superficialidade. Enfrento a realidade usando a peneira da razão pra
compreender que o que se quer ser efêmero não deseja nada mais que isto.
E assim dou o
efêmero ao efêmero. E só dou o eterno ao que assim quer ser.
SAM


























